Artigo: Sejamos cívicos!

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Por: Rodrigo Segantini*

Se você perguntar para a dona Maria, que está com o marido desempregado e a família está sem dinheiro para pôr comida em casa e combustível no carro, se ela pretende fazer uma festa para seu filhinho Joãozinho para celebrar seu aniversário que se dará nos próximos dias, esta senhora, muito prudentemente, responderá que não. Talvez, com seu coração compadecido, para não deixar passar a data em branco, faça um bolinho simples para que o garoto possa receber os amiguinhos e os parentes. Mas nada além disso….

Já a madame que não perde a pose, mesmo que esteja quebrada e devendo na praça, para manter as aparências, promoverá uma baita celebração para comemorar o natalício de seu filhote mimado, mesmo que isso afunde a bancarrota de sua casa. E a empáfia da senhora é tão grande que ela não apenas convidará centenas de pessoas, como fará questão de dizer que nunca sua família esteve tão bem, apesar do que diz serem boatos maldosos comprovadamente demonstrarem o contrário.

Taquaritinga está quebrada. Digam o que disserem os microfones das rádios locais, não interessa o que as cores berrantes das páginas dos jornais da cidade e nem importa a inação das autoridades competentes ostentando tranquilidade. As ruas sabem e o povo clama por providências porque não suporta mais a penúria que está passando. Falta dinheiro para despesas das mais comezinhas e qualquer nova demanda não passa pelo crivo da disponibilidade de recursos necessários. Desde os meninos do bairro até as simpáticas comadres do grupo do bordado, passando pelos fanáticos por futebol que ficam nos botecos fazendo apostas sobre resultados de jogos, todos sabem que Taquaritinga está quebrada, sem dinheiro para nada.

Por isso, o pessoal está em polvorosa. O que corre por aí é como que, não tendo dinheiro para nada, a Prefeitura tem tido a audácia de insistir em organizar os festejos para celebrar o aniversário da cidade. Pois eu acho que o prefeito Vanderlei Mársico deve ser saudado pela iniciativa.

Veja que a dona Maria, personagem do início deste texto, apesar da miséria em que se encontra, ainda assim vai organizar uma festinha humilde para comemorar o aniversário do filho. Não há motivo algum para que Taquaritinga não celebre sua data maior. De fato, devemos realmente exaltar o brio de nossa gente, a fibra do nosso povo a partir do Dia da Cidade. Abafar as comemorações desta efeméride seria nos acabrunhar e aceitar o máximo da humilhação ao reconhecermos como ínfimos e incapazes somos.

Não, não e não. Vamos sim às ruas. Vamos sim estufarmos o peito e orgulhosamente nos apresentarmos como taquaritinguenses e apresentarmos em desfile cívico. Vamos dizer o quanto amamos nossa cidade e o quanto estamos dispostos a lutarmos por ela e por um futuro melhor. Vamos tomar os espaços para expressar tudo o que queremos dizer mesmo que quem deveria estar aberto e disposto a nos ouvir não nos escute.

Vanderlei Mársico, ao garantir o desfile para marcar a Festa da Cidade, demonstra que tem propósito democrático. Certamente, sendo democrático, compreenderá se, durante esse evento, organizado por servidores municipais (que eventualmente enfrentam problemas para desempenharem suas funções por falta de condições e materiais e que também estão tendo dificuldades para receber seus vencimentos trabalhistas) e por entidades (que não estão conseguindo se equilibrar pela falta de consistência nos subsídios e auxílios prestados pela Prefeitura), se houver alguma manifestação que lhe pareça desfavorável, ainda que seja respeitoso. Mesmo que os funcionários públicos e os representantes dos entes beneméritos queiram aproveitar a oportunidade para expressar suas condições e seu posicionamento diante da realidade havida atualmente na cidade, tenho certeza que Vanderlei entenderá essa situação, assim como espera que o povo entenda tudo o que está passando.

Porém, espera-se que as celebrações do aniversário da cidade detenham-se ao limite do desfile cívico, pois não tem o menor cabimento a madame gastar para fazer uma festança se não tem um vintém no bolso, nem para pagar o que come, tal como na narrativa que abre essa tentativa de rascunho de esboço de artigo. Queremos crer que vergonha na cara e bom senso não falte nos administradores taquaritinguenses para que nem mesmo ousem pensar na possibilidade de promover algo que consuma dinheiro que poderia servir para honrar o que espera a Santa Casa, a Casa Abrigo e outras entidades que assistem aos mais necessitados.

Em vez de murmurar que haverá desfile cívico apesar da crise, que tal você se organizar e ajudar a preparar o desfile? Em memória aos meninos que foram lutar na Revolução de 1932, em memória daqueles que restauraram o Império contra a República, em memória dos valentes que construíram um estádio em 90 dias, vamos honrar o Espírito de Taquaritinga e vamos às ruas. O desfile é cívico – sejamos cívicos e lutemos por nossa cidade!

*Rodrigo Segantini é advogado, professor universitário, mestre em psicologia pela Famerp.

**Os artigos publicados com assinatura não manifestam a opinião de O Defensor. A publicação corresponde ao propósito de estimular o debate dos problemas municipais, estaduais, nacionais e mundiais e de refletir as distintas tendências do pensamento contemporâneo.

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